Estamos a poucos dias de mais uma eleição em terras brasileiras. Nem parece que faz quatro anos a última vez que elegemos presidente, governador, deputado federal, deputado estadual e senador. Não perece porque temos a nítida sensação de que o tipo de comunicação adotado nas campanhas dos políticos em geral quase parou no tempo. Isto é, a estratégia de divulgação e promoção dos candidatos está muito previsível, tornando-se repetitiva e pouco criativa eleição após eleição, o que de certa maneira contribui para o descrédito da população.
Quando se inicia a campanha nas ruas e veículos de comunicação, já se pressupõe todos os passos que cada equipe partidária dará durante a corrida eleitoral. Seja da ideologia que for, num contexto mais amplo, em primeiro lugar será programado o tradicional passeio do político e seus aliados pelas principais ruas de cidades previamente definidas. Nestas, a coligação em desfile apertará a mão dos cidadãos, pegará crianças no colo, vestirá alguma roupa típica de determinada região (para transmitir aos moradores a idéia de que conhece e gosta da cultura deles), comerá petiscos regionais com muito gosto e concederá entrevistas aos jornalistas que estiverem cobrindo pela enésima vez tal formato de aproximação com eleitores.
Na televisão, os candidatos continuarão aparecendo no horário gratuito eleitoral, um seguido do outro, para falar o mesmo discurso que já começa com a tradicional promessa: “Vou fazer mais pela saúde, educação…”. Aliás, mesmo com essas repetições, ainda vemos a maioria dos políticos olhando para a diagonal da câmera, lendo descaradamente o texto completo de um discurso que poderiam ensaiar antes de gravar até que ficasse bom, mas parecem ter preguiça de ler e se preparar. O resultado é uma propaganda sem naturalidade, com mensagens que – se eles não se esforçam para decorar – nós mesmos já decoramos por osmose, obviedade e recorrência assistida.
E quanto às placas de campanha espalhadas, ou melhor, amontoadas pelas cidades em época de eleição? Sempre a mesma coisa. Ocupando ponto nos canteiros e em partes que o partido julgue de destaque, esses materiais estão tão batidos e ficam tão confusos todos juntos que os cidadãos acabam ignorando as imagens, a não ser que atropelem uma delas por aí. Tem, também, aquelas pessoas que recebem pagamento para ficarem segurando inertes, ao longo de horas a fio, as tais placas ou bandeiras partidárias nas sinaleiras de ruas bastante movimentadas, complementando o desgaste visual onipresente.
Porém, como fora dito logo no início, o tipo de comunicação QUASE estacionou no tempo. Só não parou total graças ao combustível que a Internet tem injetado nas últimas disputas do país, ainda que timidamente. Agora em 2010, alguns candidatos aproveitaram os recursos interativos da web nos seus sites e criaram ambientes participativos, dispondo de espaço para recados dos eleitores, enquetes e integração da página com blogs pessoais e perfis do político no Facebook, Twitter, Orkut e Youtube. A candidata à Deputada Federal Manuela D’ávila, por exemplo, não só dispõem dos recursos citados, como também criou a seção Eleitor Repórter – espaço no qual cidadãos de diferentes regiões postam fotos e mensagens de apoio à Manuela, transformando-se em verdadeiros integrantes de sua candidatura.
Essas possibilidades que a Internet traz só reforçam o quão atrasados estão os outros meios de contato e divulgação da política no Brasil em termos de aproximação com as pessoas que definem os rumos da eleição. Acredita-se que chegou o momento de ligar o pisca alerta para a promoção e divulgação eleitoral nas ruas e na televisão. Organizar eventos de aproximação com os eleitores, ao invés de sair desfilando pelas ruas enquanto demonstra intimidade; produzir melhor as propagandas políticas, com naturalidade no rosto dos candidatos (sem cola eletrônica) e criatividade nos seus discursos; e acabar com o festival de placas, limitando mais o tempo e espaço de exposição e desenvolvendo ações de divulgação diferenciadas, que fujam do lugar comum instaurado.
Caso contrário, o combustível da Internet não vai ser o suficiente para fazer o brasileiro confiar que dá para seguir tranqüilo, com velocidade constante, durante o longo trajeto de quatro anos que vem pela frente. Afinal: como ter segurança num candidato que não muda o próprio modo de se dirigir ao público, transformará um país inteiro? A tendência, se nada for re-pensado, é que a estratégia de comunicação política continue no ritmo recorrente e previsível: devagar, quase parando. E a credibilidade nos aspirantes aos cargos disputados – estacionada, em ponto morto.
Foto destaque: O Povo Online – Clayton
Foto post: site O Globo